IMPRENSA
 Mídia
“A Lua, a Ameixa. / Iluminada pela lua e noturna. / Mestrado Intensivo em Tango”"
 BLOCO DE POESIA BCN CAT|17 de maio de 2015
"Rosa profundo: poesia e tango. O 'savoir-faire' dos artistas foi notado, seu profissionalismo, o amor que sentem pelo Tango e por tudo o que ele representa. Um luxo para você."
Ele para por um instante, olha em volta e acrescenta: “É para pegar no sono mesmo. Não precisa de Valium aqui”. Risos. “Como estamos indo? Nenhuma ideia, né?” Risos e silêncio. Ele continua lendo: “a língua oficial é uma máscara [...]”, “até as fantasias mais épicas têm um lado ridículo, de experimentação”. Pergunta as horas e decide parar por aí. Aplausos. E é a vez da última participante, Núria Martínez Vernis: “a imaginação é frágil”. Sua voz é trêmula, entre ingênua e idiota, como se viesse de um lugar profundo e inconclusivo, que sempre será conhecido como fora do jogo. “Ela deixou uma plenitude que não preenche”, “os monstros, que criam tinta quando lhes falta sangue”. Ela se levanta. Diz que vai contar uma história, um conto, quem sabe. Ela desce do palco, se vira, agora ela é a estrela que circula pela plateia: “com o fio duplo do amargo dizer-me”, ela caminha, agora adota um tom mais teatral, histriônico, com uma voz que oscila entre a de uma velha louca e a de uma garota possuída, modula e canta como se estivesse na sala de jantar de sua casa. “Dizer sim, que é a roda do inevitável não”, “deixar ir... de... dizer, dizer...”. De todas as anotações feitas com a escuridão, o Apontador só entende esta: “a indiferença é um grau”. O Apontador ficou sem caneta, pensa ele, ou será a escuridão que engole a tinta? Martínez Vernís o segue, voltou ao seu lugar. O círculo se fecha, a roda deve continuar a gravitar lá em cima, em algum lugar. No final, o Apuntador, seu criado, sai às pressas para encontrar um táxi e chegar a tempo ao Ateneu Barcelonès, que está sediando o evento "Deep Rose: Poesia e Tango". Ainda há muita gente no CosmoCaixa. Lá fora está fresco, casas senhoriais, os últimos raios de sol, descendo a ladeira. Dentro do táxi, o motorista desvia dos carros como num videogame de corrida, pé no fundo, ziguezagueando, espertinho. Ah, o Centro, ah, guirigal, ah, Plaça Catalunya Ramblas lá dentro! A noite já está vibrando.
A LUA A AMEIXA
Como de costume nestes dias, foi um dia que convidava a sair. A imponente Sagrada Família estava rodeada, como sempre, por centenas de turistas que batiam com o som dos cliques das câmeras. Era meio-dia. A poucos metros dali, na biblioteca da Sagrada Família, começava o primeiro evento do dia, La Lluna la Pruna, um espetáculo de sombras voltado para crianças de 0 a 5 anos. Salão de assembleia. Crianças que se encontravam, vivenciando seus primeiros encontros sociais. Algumas bem pequenas se acomodavam no colo dos pais, outras investigavam a anatomia do equilíbrio da cadeira. O espaço era composto pela área da plateia, a tela de projeção que funcionava como uma dobradiça e, atrás dela, uma mesa com diversos utensílios onde as responsáveis pelo espetáculo, Mercè Framis e outra mulher que a auxiliava, realizavam as montagens ao vivo, combinando imagens em transparência com mãos e luzes de fundo, gerando assim os jogos de sombras e movimentos que eram capturados na tela, juntamente com os desenhos. Seria uma montagem de sombras chinesas.O ato consiste, portanto, em imagens que servem de ponto de partida para a introdução de canções infantis populares: 'Sol, solet', 'Cargol treu banya', 'La gallina 'purricana', 'La lluna, la pruna', etc. Há também música de fundo, baseada em instrumentos de brinquedo (um pouco – para que nos entendam – à maneira de Pascal Comelade) e as vozes dos protagonistas, que servem tanto para contar as histórias quanto para dar som ao que acontece nelas, por exemplo, o som do mar quando um peixinho aparece na tela querendo viajar: "peix peixet, de la canya de la canya, peix peixet de la canya al sarronet". Uma criança de quatro decide explorar sozinha, levanta-se, parece que quer subir ao palco, mas no fim se contenta em apenas observar, sem dizer uma palavra, sabe-se lá por quê.
Uma vez lá fora, à luz do dia, Barcelona continua girando ao seu ritmo: guirigal, uma despedida de solteira, gente para cima e para baixo.
LUNÁTICOS: POESIA E NOITE
Já é tarde e temos que subir até o planetário CosmoCaixa, onde acontece o recital "Llunàtics: poesia e noite", com a participação dos poetas Màrius Sampere, Enric Casasses, David Castillo e Núria Martínez-Vernis. Quando o Pointer chega, já há fila. É visível a grande procura, a ponto de algumas pessoas não conseguirem entrar. Hoje é a "Noite dos Museus" e as pessoas parecem mais dispostas a circular. A sala está lotada. Os poetas no palco preparam os discursos e as luzes com que irão recitar. Ouço Màrius Sampere dizer ao codiretor de "La Setmana": "Escrevi um poema especial para a ocasião". As luzes se apagam e o céu do planetário se ilumina, azul escuro, enquanto estrelas, o sol e a lua aparecem, girando lentamente. O Pointer não consegue ver o caderno onde está escrevendo. Ele tentará às cegas, por tentativa e erro e com uma caligrafia ruim. Sam Abrams apresenta o evento. Ele introduz o público ao tema noturno da poesia e faz quatro traços seguindo a tradição que o tema tem na literatura. Afinal, tão antigo quanto o próprio caminhar, embora, como ele observa, "foi principalmente a partir do Romantismo que o tema se tornou insistente e transversal em toda a literatura". Após a leitura de alguns poemas com temática noturna, é a vez do primeiro participante, Màrius Sampere.Horário da apresentação do ato
Sampere explica que o primeiro poema que lerá foi escrito expressamente para este evento e que, na verdade, mais da metade de toda a sua obra foi escrita à noite. Começa assim: “um dia, não sei qual, a noite se perdeu e eu a encontrei em meus olhos”, “estávamos tão felizes, tão escuros e desconhecidos”, “desatando o caminho das estrelas, voltamos para casa”, e assim por diante. As estrelas no planetário giram, pouco a pouco. Sampere lê com energia, gritando com a garganta e os braços: “um céu inteiro ferido em imensidão por um prato sobre a mesa”, “um céu inteiro morrendo, e morrendo, e sem saber, sem saber, se um ovo ou uma castanha”. Agora a Lua atravessa meu pedaço de céu no planetário. “E nenhuma resposta surge da terra, exceto uma flor”. Aplausos. É a vez de Enric Casasses: "Quando me disseram que era sobre 'trabalhadores noturnos, poesia e noite', achei que era informação demais e escolhi apenas a noite." Risos da plateia. Casasses começa, levantando-se para ler. Ele coloca uma mão no bolso de trás, com a outra na orquestra: "Ver é dizer pouco, quando o espaço das estrelas tomou forma, concentrado em quatro palmas." Agora o céu está mais escuro. Ele lê "O Palhaço da Tradição": "Eles me paralisam de medo para que ele saiba o seu lugar." Ele se lembra de Thomas Hardy: "a mente estreita de alguém que quer escrever um livro num mundo como este" e continua: "Eu o fiz abrir os olhos à noite para que ele pudesse me ver." Agora Casasses entoa um poema rimado e David Castillo, sentado, o acompanha com a mão. O universo gira orbitando acima de nossas cabeças, agora o sol passa novamente com as estrelas, mas aqui nunca amanhece. Aplausos. O Pointer vê algo parecido com uma galáxia, ou seria uma nebulosa? Será que o universo vai desmoronar sobre nós? É a vez de David Castillo: "agora é um compromisso. Depois dessas duas rachaduras vem o bairro." E acrescenta, exasperado: "tanta luta por tantas coisas e finalmente estamos aqui na La Caixa, né?". As pessoas riem, algumas se calam: será que aconteceu mesmo? Castillo continua: "um amigo anarquista de [aqui o Pointer não entende a letra] me disse: os bancos estão prestes a ser assaltados". Risos e silêncio. Uma leve e breve salva de palmas vinda do fundo da sala. Castillo prossegue: "desviando do assunto com a frequência que costumo fazer, no meu estado de lunático", vou escrever um poema que não tem nada a ver com os temas propostos hoje e "que é o prólogo do absurdo que vou lhes contar". E começa: "como se a desleixo fosse um capricho", ciganos e "vadias eslavas", supermercados e catadores de sucata. “Um poema que não é sobre a noite, mas sobre aqueles que não conseguem sonhar”, acrescenta. “Plaça Reial, a mais parecida com o pátio de 'La Model'”, “fazem haxixe com o olhar”, “pul·lulo desorientado como um pombo no metrô”.
Cartão-postal do Planetário à noite. Poetas fazendo coisas.
Ele para por um instante, olha em volta e acrescenta: “É para pegar no sono mesmo. Não precisa de Valium aqui”. Risos. “Como estamos indo? Nenhuma ideia, né?” Risos e silêncio. Ele continua lendo: “a língua oficial é uma máscara [...]”, “até as fantasias mais épicas têm um lado ridículo, de experimentação”. Pergunta as horas e decide parar por aí. Aplausos. E é a vez da última participante, Núria Martínez Vernis: “a imaginação é frágil”. Sua voz é trêmula, entre ingênua e idiota, como se viesse de um lugar profundo e inconclusivo, que sempre será conhecido como fora do jogo. “Ela deixou uma plenitude que não preenche”, “os monstros, que criam tinta quando lhes falta sangue”. Ela se levanta. Diz que vai contar uma história, um conto, quem sabe. Ela desce do palco, se vira, agora ela é a estrela que circula pela plateia: “com o fio duplo do amargo dizer-me”, ela caminha, agora adota um tom mais teatral, histriônico, com uma voz que oscila entre a de uma velha louca e a de uma garota possuída, modula e canta como se estivesse na sala de jantar de sua casa. “Dizer sim, que é a roda do inevitável não”, “deixar ir... de... dizer, dizer...”. De todas as anotações feitas com a escuridão, o Apontador só entende esta: “a indiferença é um grau”. O Apontador ficou sem caneta, pensa ele, ou será a escuridão que engole a tinta? Martínez Vernís o segue, voltou ao seu lugar. O círculo se fecha, a roda deve continuar a gravitar lá em cima, em algum lugar. No final, o Apuntador, seu criado, sai às pressas para encontrar um táxi e chegar a tempo ao Ateneu Barcelonès, que está sediando o evento "Deep Rose: Poesia e Tango". Ainda há muita gente no CosmoCaixa. Lá fora está fresco, casas senhoriais, os últimos raios de sol, descendo a ladeira. Dentro do táxi, o motorista desvia dos carros como num videogame de corrida, pé no fundo, ziguezagueando, espertinho. Ah, o Centro, ah, guirigal, ah, Plaça Catalunya Ramblas lá dentro! A noite já está vibrando.
***
Num bar próximo, Apuntador compra um sanduíche de chouriço feito para ele em tempo recorde e o leva para o Ateneu, onde já há fila para entrar. Na verdade, é uma fila de pessoas que não conseguirão entrar. O auditório que acolhe o evento está lotado. Os dois andares do salão. Cheira a gente. Apuntador tem de ficar de pé, terminando o seu sanduíche meio escondido. Algumas senhoras reclamam porque não conseguem entrar, outros senhores afirmam que as mulheres tomaram os seus lugares. O pessoal do ICUB tem de intervir. O fotógrafo, Pep Herrero, também corre pelo salão. Mais tarde, vamos dividir a escadaria para descansar as pernas um pouco. Avisto mais dois fotógrafos e um cinegrafista. O espetáculo que está prestes a começar dura uma hora e quarenta e cinco minutos. Sem brincadeira, é quase o dobro dos espetáculos habituais de 'La Setmana'. Em breve, mas veremos porquê. No palco, em primeiro plano, sentados à mesa redonda, Eduardo Braier (narrador e pianista) e Claudio Frost (ator e dançarino). Ao fundo, Almut Wellman (que toca bandoneon) e o guitarrista Esteban Vélez. Ao fundo, à direita, o piano de cauda e um microfone de pedestal. As luzes se apagam. Entre o público, ouvem-se alguns "xxxtttt", "xxttt", alguém discutindo (parece ser por causa da cadeira). "Xxxxttt", "xxxttt", o resto é conversa fiada. Vamos começar. "Tudo bem?" "Certeza?", pergunta Claudio. "Se repetirmos amanhã", acrescenta sarcasticamente. As pessoas riem. O evento consistirá em uma revisão cronológica da história do tango em tom poético, desde suas origens até os dias atuais. Ou seja, muitas das letras dos tangos escolhidos serão lidas/declamadas em vez de cantadas. “O tango é um gênero musical popular que tem música, dança e, alguns dizem, também filosofia”, começa Eduardo, e acrescenta: “os tangos falam dos altos e baixos da vida e muitas vezes atingem um voo poético”, que toca em todas as nuances da vida, não apenas no amor. Também nos contam que as origens do tango são marginais, de lugares como os subúrbios e cidades portuárias ao redor de Montevidéu e Buenos Aires. E, no entanto, que no início o tango era algo “alegre e pitoresco”. Tudo isso, ele enfatiza, “como se fosse uma ópera condensada em três minutos”. Eduardo continua, lembrando Machado de que “o tango é uma possibilidade infinita”. Canto. Os músicos estão lhe dando trabalho. Os dois dançarinos, Maia Surribas e Jorge Talquenca, entram em cena, vestidos com roupas elegantes, porém confortáveis, e encantam a plateia com seus chutes de fêmur e giros envolventes, corpo a corpo.
Na tela de fundo, são projetadas fotos dos artistas sobre os quais os narradores comentam: Borges, os pioneiros do tango: os poetas Eduardo Arolas, Evaristo Carriego, Homero Manzi, Federico García Lorca. Eduardo e Claudio, que conversam como em um bar, contam anedotas sobre todos eles e os contextualizam. Vale ressaltar que os apresentadores são verdadeiras fontes de conhecimento. Eduardo oferece explicações mais extensas, porém ponderadas – é possível ver suas tabelas – e se transforma em uma espécie de "contador de histórias". Claudio atua mais como a voz que o desafia. Entre as explicações e as citações dos autores, eles recitam poemas em ambos os lados do palco, fazem um dueto e Eduardo também toca piano.
Num bar próximo, Apuntador compra um sanduíche de chouriço feito para ele em tempo recorde e o leva para o Ateneu, onde já há fila para entrar. Na verdade, é uma fila de pessoas que não conseguirão entrar. O auditório que acolhe o evento está lotado. Os dois andares do salão. Cheira a gente. Apuntador tem de ficar de pé, terminando o seu sanduíche meio escondido. Algumas senhoras reclamam porque não conseguem entrar, outros senhores afirmam que as mulheres tomaram os seus lugares. O pessoal do ICUB tem de intervir. O fotógrafo, Pep Herrero, também corre pelo salão. Mais tarde, vamos dividir a escadaria para descansar as pernas um pouco. Avisto mais dois fotógrafos e um cinegrafista. O espetáculo que está prestes a começar dura uma hora e quarenta e cinco minutos. Sem brincadeira, é quase o dobro dos espetáculos habituais de 'La Setmana'. Em breve, mas veremos porquê. No palco, em primeiro plano, sentados à mesa redonda, Eduardo Braier (narrador e pianista) e Claudio Frost (ator e dançarino). Ao fundo, Almut Wellman (que toca bandoneon) e o guitarrista Esteban Vélez. Ao fundo, à direita, o piano de cauda e um microfone de pedestal. As luzes se apagam. Entre o público, ouvem-se alguns "xxxtttt", "xxttt", alguém discutindo (parece ser por causa da cadeira). "Xxxxttt", "xxxttt", o resto é conversa fiada. Vamos começar. "Tudo bem?" "Certeza?", pergunta Claudio. "Se repetirmos amanhã", acrescenta sarcasticamente. As pessoas riem. O evento consistirá em uma revisão cronológica da história do tango em tom poético, desde suas origens até os dias atuais. Ou seja, muitas das letras dos tangos escolhidos serão lidas/declamadas em vez de cantadas. “O tango é um gênero musical popular que tem música, dança e, alguns dizem, também filosofia”, começa Eduardo, e acrescenta: “os tangos falam dos altos e baixos da vida e muitas vezes atingem um voo poético”, que toca em todas as nuances da vida, não apenas no amor. Também nos contam que as origens do tango são marginais, de lugares como os subúrbios e cidades portuárias ao redor de Montevidéu e Buenos Aires. E, no entanto, que no início o tango era algo “alegre e pitoresco”. Tudo isso, ele enfatiza, “como se fosse uma ópera condensada em três minutos”. Eduardo continua, lembrando Machado de que “o tango é uma possibilidade infinita”. Canto. Os músicos estão lhe dando trabalho. Os dois dançarinos, Maia Surribas e Jorge Talquenca, entram em cena, vestidos com roupas elegantes, porém confortáveis, e encantam a plateia com seus chutes de fêmur e giros envolventes, corpo a corpo.
Na tela de fundo, são projetadas fotos dos artistas sobre os quais os narradores comentam: Borges, os pioneiros do tango: os poetas Eduardo Arolas, Evaristo Carriego, Homero Manzi, Federico García Lorca. Eduardo e Claudio, que conversam como em um bar, contam anedotas sobre todos eles e os contextualizam. Vale ressaltar que os apresentadores são verdadeiras fontes de conhecimento. Eduardo oferece explicações mais extensas, porém ponderadas – é possível ver suas tabelas – e se transforma em uma espécie de "contador de histórias". Claudio atua mais como a voz que o desafia. Entre as explicações e as citações dos autores, eles recitam poemas em ambos os lados do palco, fazem um dueto e Eduardo também toca piano.
Cada poema é acompanhado com maestria pelo bandoneon e pelo violão. Essa será a dinâmica do espetáculo. É preciso reconhecer que há muito trabalho no palco. Mais nomes e fotos aparecem na tela da sala: Carlos Gardel (aquele que cantou um tango pela primeira vez, aquele que praticamente inventou a maneira de cantá-lo, e de quem também nos mostram um vídeo dele cantando 'Silencio'), Pascual Contursi (que, nos dizem, disse: "se brega é o que as pessoas sentem e cantam, então eu sou brega"), José Maria Contursi (autor de 'La noche que te fuiste'), Cátulo Castillo (autor de "El último cafè"), Samuel Linning (autor do tango 'Milinguita'), Celedonio Flores ("poeta rei da métrica, autor de inúmeros sucessos"), Raquel Meyer (que, nos contam, viveu em Barcelona por muitos anos), Alfredo La Pera (letrista que acompanhou Gardel ao longo de sua carreira), Amado Nervo (poeta mexicano que inspirou La Pera, nos dizem, embora hoje quase ninguém se lembre dele). De todas elas, há tantas histórias e aventuras interessantes que não consigo transmitir aqui devido ao limite de espaço. O evento acaba sendo um curso intensivo de mestrado em tango, amigos. "Também faremos, mesmo que seja só uma, se nos permitirem, um tango cantado." Mais fotos de artistas aparecem na tela, pessoas como: Manuel Romero, Manuel Janés (que vocês podem ver que era catalão, nascido em Manresa, que aprendeu música em Montserrat, que foi para Buenos Aires, se apaixonou perdidamente e desde então ficou por lá). Aliás, dizem que a Argentina é onde há mais famílias catalãs fora da Catalunha. Há até uma teoria uruguaia, uma das duas teorias sérias sobre o assunto, segundo Eduardo Braier, que afirma que o avô de Carlos Gardel era de Sabadell. Poema, música, aplausos. Mais música, agora apenas instrumental: piano, bandoneon e violão. Aplausos. Mais imagens: Enrique Santos Discépalo (que faz tangos de denúncia social. Lembram-se disso: “que o mundo era, é e será uma bagunça, eu sei, em 506 e em 2000 também”?), uma foto do 'El Cafetín de Buenos Aires'. Mais músicas: 'Romance de Barrio', tocada com bandoneon e violão. Os dois músicos vestidos de preto, ela com uma blusa que termina nos braços e é transparente, brilhando em seu coração o que parece um cravo vermelho. O bandoneon, como uma minhoca se contorcendo, torna-se uma dança em si. O violonista faz algo tão difícil de fazer parecer que sua presença passa despercebida. Aplausos.
Os músicos, durante o show
Estamos chegando ao fim. Imagens e gravações de Enrique Cadícamo (em seus tangos, percebe-se a influência do poeta Rubén Darío, dizem), Juan Carlos Cobián, Homero Expósito (lembram-se dele de: “Ela era mais suave que a água, mais suave que a água. [...] Primeiro é preciso saber sofrer, depois amar, depois partir e, por fim, caminhar sem pensar, perfume de flor de laranjeira, promessas [...]”? Que o Apostador descobriu aqui em seu dia), Eledia Blazquez. Música, poemas. “Estamos chegando ao presente e ao fim”, Aníbal Troilo, Horacio Ferrer, Piazzolla, Julio de Caro. Estamos chegando ao fim. “Poderíamos continuar por muitas horas com o tango, [...] deixamos muitos poetas importantes no tinteiro”. Claudio Frost está posicionado no centro do palco, boina na cabeça, microfone na mão. Os instrumentos de fundo: “Venho com um poema e um trombone para revelar teu coração”, “os loucos inventaram o amor”, “loucos, todos loucos!”, “ela é louca, eu também!!!”. Aplausos. Bravos. Para se cumprimentarem, um tango e uma milonga. Os dançarinos reaparecem, agora vestidos com suas melhores roupas.
Os dois dançarinos durante os tangos finais
Seus cintos, as notas da guitarra e do piano, o movimento sinuoso do bandoneon. O tango se torna uma peça única, uma engrenagem só, flanqueando-se, flertando um com o outro, como se buscassem o encaixe perfeito. Eduardo agradece aos presentes, aos diretores e ao pessoal do ICUB e do Ateneu Barcelonès. Última dança, a milonga. Agora Claudio dança um pouco com a bailarina e, após alguns movimentos delicados, devolve o ritmo a ela. Os bailarinos se entregam à dança, ambos em um só movimento, pernas juntas, preto e branco, como a extensão das teclas do piano. Seu cinto único como o bandoneon. Lembremos os ensinamentos de Zhuangzi ou, ainda, os do tango mencionado anteriormente: “E, finalmente, caminhe sem pensar...” Tudo se encaixa perfeitamente, amigos. Aplausos. Bravo. Os protagonistas se cumprimentam, fazem uma reverência, saem e voltam. Aplausos.
D'esquerra a dreta: Esteban Vélez, Almut Wellman (tapada parcial), Eduardo Braier, Claudio Frost, Maia Surriba e Jorge Talquenca
As pessoas começam a desfilar. Decidem fazer um bis. Uma única música, instrumental. Então o Pointer aproveita alguns assentos vazios para se sentar. Sua perna se move no ritmo da música. Aplausos. Já se passaram quase duas horas. Temos que ir embora. Sabe, voltar para 'casa', escrever tudo isso. Descansar.
***
Rosa escuro: poesia e tangoO 'savoir-faire' dos artistas foi notado, seu profissionalismo, o amor que sentem pelo Tango e por tudo o que ele representa. Um luxo. L'Apuntador sobe as Ramblas, em direção ao Raval. É a 'Noite dos Museus'. A praça MACBA está cheia de gente, skatistas, BMX, cervejas e muito mais. As pessoas subindo e descendo as escadas do MACBA parecem formiguinhas abrindo caminho. Um jovem skatista, de uns quinze anos, salta os degraus da praça e acerta um 'nollie frontside flip' e um 'big-speen flip' de uma vez só. Deunidó, pim-pam. Aplausos também. L'Apuntador avança para o Raval, para a Carrer de la Cera. Os funcionários da Bcn neta limpam e dão água a alguns pedestres. De repente, dois adolescentes começam a correr e atacam um homem que anda de bicicleta Bicing, aparentemente porque andam. Eles se atiram sobre ele de forma bastante descontrolada, com um 'chute furacão' completo. Alguém levanta a bicicleta: a roda agora está torta em quarenta e cinco graus, o homem se levanta e olha para ela, meio irritado, meio distraído. As pessoas se aproximam, os adolescentes ainda devem estar lá, mas não consigo mais vê-los... Quem sabe de onde veio tudo isso. Enfim. Mais adiante, sacos de lixo espalhados pela rua. O clima é meio selvagem, onde tudo pode acontecer, sabe, para o bem ou para o mal. Ah, esta linda cidade de Barcelona, transformada num mosaico! Ah, fique à vontade para sair e tomar um ar para poder curtir a noite. Mas está na hora de dormir. Amanhã – por hoje – continuaremos. Já é o penúltimo dia de 'La Setmana'. Aproveite o dia ao máximo. Veja a programação e faça sua agenda.
Rosa escuro: poesia e tangoO 'savoir-faire' dos artistas foi notado, seu profissionalismo, o amor que sentem pelo Tango e por tudo o que ele representa. Um luxo. L'Apuntador sobe as Ramblas, em direção ao Raval. É a 'Noite dos Museus'. A praça MACBA está cheia de gente, skatistas, BMX, cervejas e muito mais. As pessoas subindo e descendo as escadas do MACBA parecem formiguinhas abrindo caminho. Um jovem skatista, de uns quinze anos, salta os degraus da praça e acerta um 'nollie frontside flip' e um 'big-speen flip' de uma vez só. Deunidó, pim-pam. Aplausos também. L'Apuntador avança para o Raval, para a Carrer de la Cera. Os funcionários da Bcn neta limpam e dão água a alguns pedestres. De repente, dois adolescentes começam a correr e atacam um homem que anda de bicicleta Bicing, aparentemente porque andam. Eles se atiram sobre ele de forma bastante descontrolada, com um 'chute furacão' completo. Alguém levanta a bicicleta: a roda agora está torta em quarenta e cinco graus, o homem se levanta e olha para ela, meio irritado, meio distraído. As pessoas se aproximam, os adolescentes ainda devem estar lá, mas não consigo mais vê-los... Quem sabe de onde veio tudo isso. Enfim. Mais adiante, sacos de lixo espalhados pela rua. O clima é meio selvagem, onde tudo pode acontecer, sabe, para o bem ou para o mal. Ah, esta linda cidade de Barcelona, transformada num mosaico! Ah, fique à vontade para sair e tomar um ar para poder curtir a noite. Mas está na hora de dormir. Amanhã – por hoje – continuaremos. Já é o penúltimo dia de 'La Setmana'. Aproveite o dia ao máximo. Veja a programação e faça sua agenda.

